"Repousado em sua cama, o velho olhava para a porta do quarto. Desde o momento em que se deitou ali, sabia que a solidão seria sua única companhia por longos anos.
E o tempo foi passando. Sempre olhava para a porta. Não desviava o olhar por um segundo sequer. Sabia que, em algum momento, a solidão iria embora. Foi por causa deste pensamento que havia deixado um bilhete na porta, onde estava escrito: "Entre sem bater."
Os longos anos se passaram, vagarosos. A maçaneta girou e a porta se abriu. Uma senhora, pálida e vestida de preto, entrou no quarto.
- O bilhete permitiu que eu entrasse sem avisar. Desculpe.
O velho, com os olhos brilhando por conta das lágrimas que derramou, disse:
- Não se desculpe. Estava à sua espera, minha amiga.
- Sabe o motivo de eu estar aqui. Por que me chama de amiga?
O velho suspirou.
- Durante anos olhei para esta porta. Ninguém ousou abri-la, mesmo com minha permissão.
- Por favor, não fale mais nada. Poderemos conversar mais assim que partirmos.
A senhora sentou-se na cama, e repousou a cabeça do velho em seus braços gélidos. Ele já não chorava mais. Apenas sorria, como um filho perdido reencontrando sua mãe. Sentiu-se confortado na gelidez daquela senhora, e fechou os olhos. Sabia que chegara a hora de seu sono eterno. Mas antes de adormecer, disse à senhora:
- O porquê de eu chamar-lhe de amiga... é que eu sempre soube de que viria me ver."
F.C. Neto
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